Entrevista ao jornalista Juliano Rangel
Pedagoga por formação, a diretora do Centro Estadual da Fundacentro no Rio Grandedo Sul, Maria Muccillo adentrou ao mundo da Saúde e Segurança do Trabalho por convicção. Para ela, que também é técnica de Segurança do Trabalho, o profissional de Segurança e Saúde tem a obrigação de estar sempre em busca de conhecimento e informação atualizada. Isto porque o mundo do trabalho permanece em constante movimentação. Quando se encontra um recurso para contornar um determinado risco, outro surge em seu lugar. Por este motivo, ela exalta a importância da educação continuada, pois o profissional que se doa à área prevencionista não pode se contentar com soluções brandas, devendo interiorizar uma inquietude permanente por respostas.
Além de dirigir o centro estadual gaúcho da Fundacentro, a pesquisadora, que possui trabalhos científicos na área de Segurança do Trabalho publicados no Brasil,Espanha e Suíça, atua como colaboradora do Comitê Permanente Regional do Rio Grande do Sul de SST na Indústria da Construção, coordenadora pedagógica e docente do Projeto Nacional de Proteção Coletiva de Máquinas e Equipamentos, sendo também integrante da Comissão Permanente Nacional do Trabalho Portuário.
PROTEÇÃO – Quais são os maiores desafios enfrentados atualmente pelo profissional de SST para atuar em prol da prevenção?
MARIA – Vejo duas vertentes completamente diferentes. Uma é o ambiente no qual ele vai trabalhar. Se não houver, por parte de quem tem poder de decisão, uma compreensão mínima sobre a importância da segurança para os negócios de sua empresa, ele vai ter dificuldade de implantar qualquer medida que venha favorecer a Segurança do Trabalho. A outra é ele estar realmente preparado para esse tipo de inserção. Ou seja, ele pode opta por ser um profissional medíocre, se contentar com isso e, também, não avançar em relação à segurança. Ou gostar, se identificar, querer fazer e encontrar uma série de barreiras. Quanto mais ele se submeter a pressões externas, que não permitam que ele faça aquilo que acredita ser o melhor para a empresa, na situação confrontada, tendo como base a legislação, maior a chance de frustração e de se tornar um profissional adoentado. Por isto, ele precisa saber que existem uma série de medidas além da legislação, pois se ele se der conta de que só poderá fazer o mínimo que a legislação permite, e não for um profissional medíocre, com certeza entrará em processo de sofrimento.
PROTEÇÃO – O que poderia mudar este cenário?
MARIA – Acho que é um processo, e não tem uma fórmula pronta. Costumo dizer que um curso de Segurança e Saúde no Trabalho, seja ele de nível médio, superior ou pós-graduação, tem que oferecer ao profissional a possibilidade de reflexão sobre o desempenho do seu papel. Ele precisa estar ciente e convencido de que gosta e se identifica com essa atividade. Se ele fizer pensando apenas no lado financeiro, vai se frustrar. Pode até ser um profissional bem sucedido,
mas está provado que o que faz realmente a pessoa se manter íntegra, do ponto de vista da saúde, não é só o que ela consegue ter, mas sim o que consegue ser. É preciso harmonizar tanto o lado pessoal quanto o profissional no exercício da profissão. A maior parte da nossa vida é dedicada ao trabalho. Então, se ele não tiver esse tipo de gratificação em função do que ele é e do que faz, no caso em questão por meio da Saúde e Segurança do Trabalho, provavelmente, não será uma pessoa satisfeita, feliz e com qualidade de vida.
mas está provado que o que faz realmente a pessoa se manter íntegra, do ponto de vista da saúde, não é só o que ela consegue ter, mas sim o que consegue ser. É preciso harmonizar tanto o lado pessoal quanto o profissional no exercício da profissão. A maior parte da nossa vida é dedicada ao trabalho. Então, se ele não tiver esse tipo de gratificação em função do que ele é e do que faz, no caso em questão por meio da Saúde e Segurança do Trabalho, provavelmente, não será uma pessoa satisfeita, feliz e com qualidade de vida.
PROTEÇÃO – A formação oferecida aos profissionais de SST é adequada?
MARIA – Não em parte. Uma coisa é você oferecer boas informações e outra é você saber trabalhar o conteúdo para que a informação vire conhecimento. No caso dos cursos de Segurança do Trabalho, acredito que o grande desafio está em transformar a informação em conhecimento. Isto porque informação você acessa, hoje, com qualidade em vários meios, mas nem sempre aquela informação se torna conhecimento. Quando ela passa a ser conhecimento, daí sim você interioriza e começa a pensar em ‘como vou poder melhor aplicar esse conhecimento’. Só que essa transformação, que deveria ocorrer dentro do curso, não está sendo trabalhada. Talvez porque as próprias escolas que assumiram esse papel não estavam também preparadas para assumir um curso dessa forma. Até mesmo porque
Segurança do Trabalho é muito diferente de qualquer outra formação.
Segurança do Trabalho é muito diferente de qualquer outra formação.
PROTEÇÃO – O que a torna tão diferenciada?
MARIA – Ela depende de muitos outros tipos de informações e ciências. Então, se a pessoa já chega ao curso com determinada defasagem, aquilo vai repercutir no próprio trabalho dela. Como ela estará trabalhando com seres humanos, precisa ter um conhecimento muito mais vasto e aprofundado do que é uma pessoa, do lado filosófico, da sociedade, da Antropologia, de Ciências Humanas. Só assim terá embasamento de como mesclar técnica e prática. O ambiente de trabalho não é só uma máquina. Temos um ser humano ali, sendo que não existe um instrumento que avalie exatamente qual é a vulnerabilidade que ele tem em relação a determinado agente agressor. Segurança do Trabalho não se faz sozinho. Existe uma cadeia de comprometimentos e de responsabilidades. Só que temos um
grande problema: não sabemos encantar as pessoas para a importância que a SST tem para a vida. Dissociamos isso de tal maneira que a grande maioria dos trabalhadores ainda vê Segurança e Saúde do Trabalho como algo que lhes traz sofrimento, porque tudo é feito apenas em cima da utilização de um Equipamento de Proteção Individual.
grande problema: não sabemos encantar as pessoas para a importância que a SST tem para a vida. Dissociamos isso de tal maneira que a grande maioria dos trabalhadores ainda vê Segurança e Saúde do Trabalho como algo que lhes traz sofrimento, porque tudo é feito apenas em cima da utilização de um Equipamento de Proteção Individual.
Fonte: http://blog.mte.gov.br/
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